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quinta-feira, agosto 21, 2008

Radioamadores driblam trânsito em SP.

18/08/2008 - Radioamadores driblam trânsito
Os radioamadores usam a comunicação para enfrentar os longos congestionamentos na capital
paulista. Com aparelhos para operação móvel instalados nos veículos, alimentados pela bateria do carro, eles trocam informações sobre pontos de lentidão na cidade. Mas, caso as filas sejam
inevitáveis, o rádio ajuda a passar as horas ociosas dentro do veículo.
Saindo do escritório, essa uma hora e meia no trânsito passa muito rápido. É um horário que estou utilizando o rádio para conversar com o pessoal da Europa”, diz o engenheiro elétrico José Alberto Julio, de 43 anos, presidente da Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão (Labre-SP). Ele trabalha na Lapa, na Zona Oeste de São Paulo, e mora na Zona Leste.









José Alberto Julio mostra equipamento instalado dentro de carro
(Foto: Luciana Bonadio/G1)

O rádio ajudou o vice-presidente da entidade, o comprador José Armando de Macedo Soares Júnior, de 29 anos, a fugir da lentidão na época dos ataques promovidos pela quadrilha que age a partir dos presídios de São Paulo. No dia 15 de maio de 2006, os paulistanos, com medo, saíram mais cedo do trabalho, o que travou o trânsito. “Todo mundo estava preso no trânsito e eu cheguei na minha casa em 40 minutos”, lembra.









José Armando fala de estação instalada dentro da Labre, em São
Paulo (Foto: Luciana Bonadio/G1)

O microempresário João Roberto de Almeida, de 42 anos, é radioamador desde 1978 e também
conta com os equipamentos para fugir da lentidão. “Eu tenho rádio e a gente usa para ter
informações de trânsito. E também temos um passatempo para enfrentar esse trânsito maluco”,
conta. De acordo com o vice-presidente da Labre-SP, há cerca de 3.200 radioamadores na capital paulista – mas nem todos têm o equipamento no carro.

Regulamentação
Mas não pense que é só instalar equipamentos de rádio no carro e sair falando. Um radioamador precisa de uma licença – e muito conhecimento - para operar a estação. O Certificado de Operador de Estação de Radioamador (COER) é obtido junto à Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) por meio de um teste para comprovar que o interessado tem capacidade técnica para operar a estação de radioamador.
“O objetivo do radioamador é comunicar, aprimorando a capacitação técnica e conhecendo novos horizontes. É a janela para o mundo”, explica Julio. Na associação, há aulas que habilitam os interessados para os testes da Anatel. “Tentamos despertar a curiosidade do público para se tornar um radioamador. Para as pessoas não pensarem que a gente causa interferência na TV do vizinho”, afirma.
Entre as preocupações do radioamador está o uso adequado dos aparelhos. “Todo equipamento
tem de atender a uma norma para não gerar interferência”, explica Julio. A licença da Anatel é
dividida em três classes (A, B e C) e os radioamadores precisam respeitar as faixas de freqüência, tipos de emissão e potência permitidos à classe da certificação.
Pé de mexerica
Em tempos de internet, os radioamadores defendem essa comunicação, usada há muitas décadas. “A diferença é a parte de conhecimento técnico. Na internet, você entra e acaba falando com qualquer um. Já os radioamadores são pessoas de todas as camadas sociais que têm uma
afinidade. Existe um gosto que não dá para explicar”, diz José Armando.
Julio, por exemplo, teve o primeiro contato com o radioamadorismo quando ainda era
adolescente, e o pai trocou o videogame dele por um rádio. “Aos 15 anos, eu montei uma antena,
pendurei no pé de mexerica da minha avó e o primeiro contato que fiz foi com Fortaleza”, lembra.
Conhecer pessoas de lugares muito distantes é uma das paixões do radioamador. “Você vai
estudando, se alimentando com aquelas informações”, afirma, dizendo que aprendeu inglês,
espanhol, italiano e francês com o rádio. As histórias dos radioamadores têm um ponto em
comum: eles conheceram esse tipo de comunicação muito cedo.

O administrador de empresas Antônio Nikola, de 35 anos, começou em 1987, quando tinha 14 anos. “Meu pai tinha uma lancha em São Vicente [com um rádio] e aquilo me fascinou bastante. Eu fui me aprimorando no assunto. Até hoje continuo com minhas antenas, investindo em
equipamentos”, lembra. Ele conta que o rádio já permitiu a comunicação de familiares dele com parentes que estavam distantes. “Minha tia morava no Zaire e a comunicação por telefone era muito precária. Em 1992 ou 93, ela passou seis meses aqui e a gente usava diariamente para se comunicar com meu tio”, lembra.
Os radioamadores são muito procurados em todo o mundo durante tragédias e guerras – ocasiões em que a comunicação por telefone, por exemplo, costuma ser interrompida. O funcionário público Maurício Pitorri, de 39 anos, radioamador desde 1988, lembra um caso ocorrido há alguns anos.
“Ouvi um homem que estava desesperado porque queria contato com o Egito. Mas não
conseguimos e os italianos tomaram conta da situação. Ele queria notícias da família. À noite,
quando eu ligo a TV, vejo a notícia de que havia tido um terremoto no Egito”, conta.
Fonte: G1/Luciana Bonadio- G1

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